03/02/2016

Nunca desista do seu sonho

Lembra da Haydée, que contou pra gente como foi sua primeira gravidez? Hoje temos mais um relato dela contando sobre a segunda e terceira gestação. História linda e emocionante de perseverança.

“Meu segundo filho foi muito planejado, pois o primeiro veio inesperadamente, já que começamos, queríamos que não tivessem muita diferença de idade. Eu vim de uma família de 3 filhos, eu e meus irmãos tínhamos muita diferença (5 e 8 anos) e não fizemos nada juntos, colégio, atividades extracurriculares e até mesmo brincar. Sempre falava com minha mãe que havia tido 3 filhos únicos. Meu marido era o “temporão” depois 3 filhos após 11 anos, viveu sempre sozinho.

No trabalho, havia sido chamada para dar aulas em uma Universidade antes mesmo do planejado, preocupada um pouco com a estabilidade por querer ficar grávida, paralelamente atendia no consultório, então teria de ser bem planejado para dar as aulas o ano todo, sem prejudicar o ano letivo dos alunos.

Neste ano, terminei a Especialização, conquistei estas aulas, minha carreira estava em ascendência. Meu marido na sua profissão estava passando por mudanças, compramos um apartamento maior para o conforto da prole e assim seguimos os nossos planos.


E assim planejamos para que o segundo filho fosse gerado para fazer companhia para o primeiro. Sim, na primeira tentativa fiquei grávida! Pelos cálculos teriam 2 anos e meio de diferença. 

Mais uma vez o planejado, parece não ser o melhor, soube da confirmação da gravidez no dia que meu marido foi operado inesperadamente para retirada de um tumor na lombar com sério risco de perder os movimentos de uma das pernas. O que seria uma alegria, parecia um pesadelo. Mas felizmente a cirurgia foi bem-sucedida, e com o tempo os movimentos dos membros inferiores foram voltando e pudemos pensar na gravidez e curti-la como esperávamos. Este ano foi bem difícil apesar de estarmos empregados, pois havíamos contraído dívidas com o apartamento novo, a cirurgia, foi particular, pois o convênio não reembolsou o cobrado pelo profissional e sua equipe. 

Quanto a gestação aparentemente tranquila com suaves contrações desde o terceiro mês, algumas indisposições, mas nada assustador. Meu primeiro filho estava na escola no período da manhã e eu dava aula no mesmo período, apesar de necessitar da ajuda de alguém para levá-lo e pegá-lo no horário da saída em algumas manhãs. Meu marido e minha mãe faziam este revezamento, apesar de trabalhar 6h diárias. Diminui minhas horas fora de casa para cuidar e estar perto do meu filho.

Com 5 meses de gestação tive 30 dias de férias em julho e com isso pude aproveitar um pouco, tomar conta do meu filho e repousar para diminuir as contrações, mesmo assim no final deste período tive fortes contrações necessitando de repouso, mas foi durante as férias então não necessitei de afastamento do trabalho.

Quando estava com 30 semanas fiz uma consulta mensal com o ginecologista e estava tudo correndo bem, apenas as contrações diárias e persistentes.

Preparando para ir ao trabalho percebi um sangramento e contrações fortes, após falar com o ginecologista chamei o meu marido. Peguei um táxi, levei meu filho para minha mãe e meu marido me encontrou lá e em seguida levou-me para maternidade. Neste momento já fui deitada no carro passando muito mal, entrei de cadeira de rodas para triagem onde fui levada diretamente para centro cirúrgico, não havia nada comigo apenas, meus documentos. O bebê estava nascendo, entrei às 16h na maternidade e Paolo, nasceu às 16h20. O parto foi normal, uma sensação maravilhosa de sentir o bebê nascer, fiz pouquíssimo esforço.

Não sei foi sorte, mas naquele dia e período o pediatra de plantão era o pediatra do meu primeiro filho, fiquei muito feliz e acolhida, ele me disse o bebê estava bem mas precisava ir para UTI. Depois conversou com meu marido e explicou que estava com pulmão em formação e com isso estava com dificuldade respiratória. Teria que superar esta deficiência e ganhar peso.

Seriam dias e dias de UTI, meu marido foi acionado para deixar um depósito no hospital porque soubemos naquele instante que a UTI não estava coberta pelo convênio, uma situação sem nexo, o bebê estava com cobertura pelo plano mas se for para UTI, não. Deixamos um cheque calção no valor do nosso carro. Situação muito difícil sem saber o quanto seria necessário permanecer no hospital. Na manhã seguinte, ainda perturbada com o acontecido, mas já de pé fui ver o meu bebê na incubadora e por não ter noção do que seria um parto prematuro levei uma máquina fotográfica. Quando cheguei, amparada pelas enfermeiras, elas me disseram que ele estava muito frágil e era muito grande (peso) para seu pulmão. A emoção foi muito grande, pois havia visto apenas de passagem quando nasceu. Era a cara do meu primeiro filho, guardei a máquina e me retirei da UTI. 

Fui para o quarto e mesmo triste coloquei o enfeite da porta, escrevi o nome e a data (eram as únicas coisas prontas naquele momento). Durante o dia apenas ligava para saber dele, com resposta de estável. Quase no final da tarde, meu marido saiu da maternidade e foi buscar meu filho para conhecer o irmão (que havíamos combinado de apontar alguma criança do berçário) mesmo estando na UTI. Perguntava por mim, pelo irmão... desta forma meu marido foi pegá-lo na casa de meus pais e em seguida foi para casa buscar algumas roupas para retornar a maternidade com ele. Durante este trajeto, o Pediatra (que já era do meu filho mais velho) me ligou no quarto dando a notícia do falecimento do Paolo.

Liguei imediatamente para meu marido e dei a notícia. Os planos foram mudados, retornou ao hospital sem o Flavio, e foi providenciar o sepultamento do bebê. Talvez, foi a notícia mais triste que recebi, foi uma sensação de revolta, tristeza e vazio. Segundo a maternidade, tínhamos que ser rápidos na retirada do corpo da UTI, apenas tinha um macacão branco que ganhei de uma grande amiga naquela tarde, pedi para vesti–lo . Na manhã seguinte apenas eu e meu marido fomos nos despedir dele. Eu ainda não estava de alta, então meu marido juntamente com uns primos foram sepultar o menino. A sensação de vazio é indescritível, subi para quarto retirei o enfeite de porta e guardei as lembrancinhas para mostrar para todos que tudo tinha acabado. Todos tentavam me consolar que eu já tinha um filho e que se não tivesse seria pior. Palpites e consolo não faltavam. Eu apenas dentro de mim pensava ele era meu, não tive oportunidade de pegá-lo nos braços. Muita tristeza! 

Saindo da maternidade, uma enfermeira por engano me disse, a senhora precisa esperar o bebê, está saindo sem ele. Eu respondi: “eu não tenho bebê, ele morreu”, com os olhos cheios de lágrimas. Ela me disse:  “me desculpe, a senhora estará aqui o ano que vem”.
Eu muito revoltada naquele momento, pensei, ela me disse isso para corrigir o “fora” que acabou de dar.

Fui para casa, pensamos a forma que iríamos falar para o Flavio que não havia irmãozinho, ele nasceu, mas foi adiado a ida dele para conhecê-lo. Compramos um avião, que apesar de novinho, o passeio que mais adorava fazer era ir ao aeroporto ver os aviões decolarem e sabia pelas cores as companhias aéreas.

Dissemos a ele que o Paolo nasceu, mas foi morar com o “Papai do Céu” mas deixou este presente. Os olhos brilharam e ele distraiu-se com o brinquedo.

Estava muito triste, pensando o que seria daqui pra frente, se poderia ter outro filho, será que terei outro, tenho algum problema, tinha que seguir...

Neste momento testamos nossas forças, o parceiro e a relação a dois. Conversamos, voltei ao ginecologista e perguntamos se houve algum problema na fecundação ou na gestação. Peguntei se poderia ter outro filho e em quanto tempo. A resposta foi que não tinha nada comigo e com meu marido, apenas uma fatalidade. Não havia dado tempo para fortalecer o pulmão antes dele nascer, como fazem com os bebês prematuros hoje em dia.

Perguntamos quando poderia engravidar novamente e me respondeu que apenas esperasse 3 menstruações. Tive que tomar remédios para secar o leite, tirava inicialmente, mas estava muito deprimida. 

Pedi para voltar antes dos 4 meses da licença–maternidade, fiquei um mês fora e retornei minhas aulas pois o trabalho me ajudou muito a superar esta perda.

A menstruação iniciou exatamente após um mês do nascimento do Paolo, foram outubro, novembro e dezembro. Combinei com meu marido que tentaríamos após este prazo porque não queria desistir de dar um irmão(ã) para Flavio.

E assim fizemos, em janeiro já sabia que estava grávida novamente, guardamos segredo e em fevereiro contei para a família. Foi uma gravidez mais tranquila, sem contrações, mas com muita insegurança de perdê-lo.

A data prevista do nascimento era para 19-09, o mês que sempre achei lindo.

Como o bebê era muito grande e estava sentado, o médico já havia dito que teria que fazer cesariana. Numa consulta semanal, que por coincidência foi no dia que Paolo completaria um ano, o ginecologista disse que precisaria fazer uma ultrassonografia e que era provável que precisasse adiantar o parto e poderíamos marcar para o sábado, dia 14.

Fiz a ultrassonografia, já estava com pouco líquido na placenta e teria que fazer o parto imediatamente. Não pensamos duas vezes, liguei para o médico e ele mandou eu me internar na maternidade por volta das 14h. Naquela tarde, como todas sextas-feiras em São Paulo, houve uma passeata na Avenida Paulista me impedindo de chegar a Maternidade, eu e meu marido chegamos às 16h e o médico e sua equipe às 17h. Fiz toda preparação, me orientaram que seria muito diferente dos meus outros partos anteriores, que tinham sido normais. 

Anestesiada, pronta para chegada...e nada, o bisturi falhou... A equipe brincava, sexta 13.
Às 18h14, nasce Augusto pesando 3,940 kg e 52cm, enorme!Perto do meu padrão anterior...

Felicidade total, mas meu marido que estava ao meu lado o tempo todo observou que Augusto nasceu no dia e hora que Paolo faleceu.

Não acho triste a história e sim que levem como uma lição de perseverança. Acho que sou uma pessoa iluminada, protegida e grata, pois apesar de ter perdido um filho, eu ganhei um anjo.

 Muito arrasada e pensando nas mães que não querem seus filhos, pois eu o queria muito, mas nesta hora acho que temos que seguir e persistir e não desistir.

Mensagem: Não desista do seu sonho. As coisas não acontecem por acaso.”

Haydée, Fonoaudióloga, mãe do Flavio, Paolo e Augusto.


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