03/03/2016

A volta do abismo

Hoje temos mais um relato de depressão pós-parto, que atinge tantas mamães, e por isso, acreditamos na importância de discutir o assunto sempre. Compartilhar a própria história ajuda outras mulheres que passaram ou estão passando pelo mesmo problema.

A mamãe Sabrine dividiu com a gente o que viveu depois da primeira gravidez e como superou.

"Quando meu bebê tinha uns 2 meses eu estava exausta. Não tinha ajuda. Meu marido trabalhava o dia todo e estudava à noite, e se dizia cansado demais para me ajudar. Minha mãe me visitava de vez em quando, mas reforçava que havia cuidado de mim sem ajuda, e eu sabia que se pedisse ajuda a ela, provavelmente iria cobrar isso a vida inteira. Eu também estava com os hormônios descontrolados. Frágil demais até para pedir ajuda. Meu bebê tinha refluxo e chorava muito. De 6 a 8 horas sem parar todos os dias. Quase não dormia uma hora inteira sem chorar. Eu não comia e não descansava. Ficava com ele no colo o dia e a noite inteira. Perdi 16 quilos em menos de 2 meses. 
Uma noite meu marido chegou um casa e eu estava sentada na cama ninando o bebê. Meu marido acendeu a luz e ficou aturdido olhando para mim. E eu olhando para ele sem nada entender. Foi quando olhei para os meus braços e não vi o bebê. Levantei em desespero, e comecei a procurar meu filho por entre as cobertas com medo de ter sufocado meu bebê na cama. Meu marido correu até o quarto dele. Meu filho estava dormindo no berço. No dia seguinte entreguei meu filho para minha mãe. Me sentia incapaz de cuidar dele. Fui diagnosticada com depressão pós-parto e já estava alucinando.

Foi então que, no fundo do poço, fui encaminhada para terapia, duas vezes por semana, e passei a tomar diariamente um antidepressivo.

Finalmente, comecei a receber auxílio dos familiares (avós e esposo), e especialmente da psicóloga que muito me ajudou a entender o meu quadro, e a aceitar que nem sempre a maternidade é exatamente como a gente sonhou, e que o sofrimento psíquico que algumas mães atravessam em maior ou menor intensidade também é muito comum, e pode ser superado.

O mais difícil é superar o preconceito das pessoas que encaram que toda a mãe tem que, obrigatoriamente, ser feliz pelo fato de ser mãe, e é de sua inteira responsabilidade tanto o cuidado com o bebê, quanto o sacrifício resignado de todas as suas necessidades, mesmo que fundamentais.

O fato é que, enquanto algumas mães conseguem permanecer em estado de graça, muitas estão em grande sofrimento sem que disso tenham a menor culpa.

No meu caso, tive um final feliz. Com o tempo, tudo foi melhorando. Passei a me sentir melhor, e mais confortável nesse novo papel. Meu pequenino bebê passou também a dormir melhor e foi crescendo feliz e sapeca. Ele e eu passamos a ser muito felizes juntos e até hoje somos intensamente ligados, mais próximos até do que ele do pai, apesar de se amarem muito.

Mas isto só foi possível depois de alguma medicação (antidepressivo), muita terapia e muitíssima colaboração das pessoas ao meu redor (inclusive as avós, e meu esposo) para que eu conseguisse me cuidar, me alimentar e descansar um mínimo necessário para poder me colocar em pé novamente.

Depois de algum tempo, tive uma outra bebê, linda e sapeca como o irmão. A pequena está com 1 ano de idade. Fiquei melancólica com o seu nascimento, mas já estava preparada e fazia terapia, e minha experiência me ajudou a não ficar deprimida novamente.

Continuo casada, e meu primeiro bebê tem hoje 8 anos. Somos muito felizes."


A psicóloga Paloma Vilhena explica que com o nascimento do bebê, espera-se que as mulheres criem super poderes e sejam capazes de dar conta de tudo sozinhas. "Com a falta de apoio, culpa e medo de serem julgadas, muitas mães não pedem ajuda. É muito difícil admitir não sentir-se completamente radiante com a chegada do bebê quando a maternidade é tão romantizada em nossa sociedade. O pós-parto é um momento cansativo em muitos sentidos, até 80% das mulheres passam pelo baby blues e quando os sintomas persistem por mais de duas semanas e começam a piorar, pode ser que a mulher esteja com depressão pós-parto, doença incapacitante que atinge cerca de 10 a 15% das mulheres. Pode ser difícil para a mulher identificar que não está bem e é necessário que alguém por perto perceba os sinais, como no relato acima: “eu não comia e não descansava”, “não tinha ajuda”,“hormônios descontrolados”, entre outros. É fundamental que todos, e não somente as mulheres, responsabilizem-se pelo bem-estar dos bebês e das mães. Para conseguir cuidar de uma criança, a mulher precisa ser cercada de compreensão e acolhimento. Isso é fundamental para a saúde da mãe, e consequentemente do bebê. A depressão pós-parto precisa de ajuda profissional de um psicóloga e de um psiquiatra.", finaliza.

Sabrine é mãe de um menino e uma menina.

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