19/04/2017

A história de Fabiana

Conheci a Fabiana no Aeroporto de Congonhas, voltando de um voo do Rio de Janeiro. Fabiana é taxista. Sobre o painel do carro, uma chupeta pink. Minha filha, de 2 anos e 8 meses, cochichou ao meu ouvido: "mãe, por que ela tem uma chupeta?" Eu respondi: "não sei, filha, pergunta pra ela". E ela, bem baixinho, "moça, por que você tem uma chupeta?" A Fabiana não ouviu e eu repeti a pergunta, com medo de uma resposta trágica, com medo que fosse uma recordação dolorosa, enfim...

Ela sorriu e respondeu: "tenho três filhos homens e eu comprei essa chupeta pink de amuleto". E eu, curiosa, continuei: "três? Você é tão jovem!"

"Sim, comecei cedo! Ao contrário da minha mãe que foi mãe aos 39, eu fui mãe aos 16. Meu filho mais velho vai fazer 18 anos, tenho um de 14 e o mais novo tem 5."

"Nossa, imagino que vc esteja experimentando uma maternidade completamente diferente agora, não?"


"Completamente! E sou muito grata por ter tido a oportunidade de ser a mãe que não fui para meus dois primeiros filhos. Quando o mais velho nasceu eu tinha 16 pra 17 anos. Não sabia nada. Minha mãe morava ao lado e, como ele nunca mamou no peito, eu deixava a mamadeira pronta e saía. Minha mãe cuidou muito dele. Quando o segundo nasceu eu tinha 21 anos, ele mamou por dois meses e logo minha mãe foi assumindo também. Não tive nenhum problema nessas duas gestações, nenhum enjoo, nada. Como tenho a bacia colada, tive que fazer cesárea nos dois partos, portanto, nunca senti dor. Nunca senti a gravidez, nem o parto, foi tudo muito simples.

Já com o Miguel foi tudo diferente: enjoei e, mesmo marcando cesárea, passei por todo o processo de trabalho de parto. Tive contração, muita dor, etc. Eu SENTI a maternidade chegando. Foi transformador. Decidi que iria vivenciar tudo o que eu não havia vivenciado nas duas outras experiências.

Parei de trabalhar por dois anos para ficar com o Miguel em tempo integral. Eu não queria mais saber de viajar, a menos que fosse adequado para ele, nem de sair a noite, nada. Ele mamou até três anos e três meses, mesmo tendo ido para a escolinha aos dois anos. Como passamos a ter apenas a renda do meu marido, ficou pesado para ele e quase nos separamos quando o Miguel tinha um ano.

Ele me dizia que eu estava estragando nosso filho e eu respondia que não, que se fizesse diferente estaria estragando a terceira chance que Deus havia me dado de ser uma mãe de verdade. Enfim ele aceitou e estamos juntos até hoje.

Me ressinto muito de tudo o que não fiz pelos meus dois primeiros filhos. É uma dor e um arrependimento que não passam. Mas estou feliz por poder estar vivenciando tudo agora. Hoje sei que sou uma boa mãe para os três e estou aprendendo a cada dia.

Acho que o corpo da mulher só poderia estar apto para engravidar depois dos 25 anos. Seria o certo. Antes disso não temos consciência do que é a maternidade."

"Que história linda, Fabiana!Tenho um site voltado para mães de primeira viagem e gostaria muito de ter a sua história nele. Você aceita?", perguntei.

"Claro, com o maior prazer! Pode escrever pra mim? Depois eu entro no site e vejo!"

E aqui estou eu escrevendo a história da Fabiana, mais conhecida como Bia. É o que sempre digo... a natureza é um pouco ingrata com as mulheres: quando elas mais podem ter filhos é quando estão mais despreparadas. E quando elas estão mais bem preparadas é quando a dificuldade para engravidar surge.

Ainda bem que a medicina term oferecido oportunidades para mulheres que, como eu, decidiram ser mães depois dos 40 :-)


Acácia Lima, mãe da Mariana e idealizadora da Somos Mães de Primeira Viagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário